Nadir Afonso in «Arquitectura e Vida»
Num mundo que vive, cada vez mais, de aparências e vaidades, conversar com alguém como Nadir Afonso é um bálsamo para o espírito. Figura ímpar do pensamento e da arte portuguesa do século XX, aos 85 anos continua a prezar as mesmas qualidades - a sinceridade, a modéstia, a obstinação, a acutilância, a generosidade, a sabedoria - que o têm orientado ao longo de uma vida plena de experiências e sucessos.
Mais que um desfile de recordações, estas duas horas de conversa, no conforto da casa de Nadir, em Cascais, constituíram uma viagem fascinante à memória de um homem que fala, com a paciência dos grandes mestres, sobre o seu percurso profissional e artístico, as suas ideias e inquietações. Num registo pleno de expressividade, aceitou reviver alguns momentos fulcrais dessa história, fazendo sempre questão de representar todas as personagens e de convocar todas as vozes que dela fizeram parte ou que com ela se cruzaram. Nascido em Chaves em 1920, Nadir Afonso fez o curso de Arquitectura na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Curiosamente, diz nunca se ter sentido arquitecto, quando só alguém notável nesta área poderia ter, como ele teve, o privilégio de trabalhar com os melhores do mundo - primeiro em França, com Le Corbusier (1948-51), depois no Brasil, com Oscar Niemeyer (1952-54).
No entanto, nada desviou Nadir da sua total propensão para pintar nem da certeza de que as leis que regem a Pintura e a Arquitectura são diferentes. Além de materializada nos seus trabalhos plásticos, essa tomada de consciência tem sido, desde então, catalisadora de uma extensa obra teórica. Como artista, continua a procurar incessantemente as essências e o absoluto, e a encontrar na harmonia geométrica o reflexo da ordem primordial do Universo
Entrevista de Vladimiro Nunes in «Arquitectura e Vida»