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Círculo Vermelho

Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem!...

Círculo Vermelho

Há tão pouca gente que ame as paisagens que não existem!...

28
Abr07

Nadir e as Cidades

Laura Afonso

     

Desde que existem as cidades e a pintura, pode comprovar-se o interesse dos artistas em utilizar o horizonte urbano como ponto referencial de perspectiva na representação bidimensional. Mas são muito diferentes as funções que, segundo o tempo e o estilo, fixam a paisagem urbana dentro do quadro, do fresco ou do mosaico.

Resulta bastante interessante colocar as «paisagens urbanas» de Nadir Afonso ao lado de Braque, Delaunay, Picasso, Léger ou Boccioni, para compreender o passo em frente que significa a pintura deste arquitecto português, pois Nadir parte justamente do limite alcançado por aqueles. Nadir Afonso começa por desenhar cidades verdadeiras para acabar por prescindir na manualidade hábil e apreender a essência plástica do «genius loci»: é o momento em que opta pela pintura pura e pelo estudo dos valores estéticos que o próprio facto da composição do quadro encerra, o qual absorve numa admirável simbiose sintetizadora todo o saber concentrado num esboço urbanístico.

O desenho, pois, converte-se em fim de si mesmo, porquanto não está ordenado em função da distribuição de âmbitos habitáveis, mas como puro objecto de contemplação: é o resultado da alienação sofrida pelo técnico que é absorvido pela ambição estética do artista. As cidades de Nadir não são já simples representações de ruínas, praças famosas ou monumentos. Na sua linguagem, a arquitectura é muito mais que a estrutura do cenário. Eu diria que, quase desde o princípio, o urbano é para Nadir um puro pretexto do qual lhe interessa apenas o estrato, primeiro de formas e ritmos, e logo unicamente de sensações fugazes. Nadir radiografa os volumes para representar somente o seu esqueleto estrutural, e este filtrado sempre pela própria subjectividade. Às vezes, até chegamos a duvidar se se trata de uma paisagem urbana captada nos seus centros ou ritmos geradores, ou se é o quadro que inventa, nos seus antolhos, a visão urbana, projectando o indizível no campo da criação. De resto, para Nadir não há arte se não há criação.

Gomez Segade

28
Abr07

Morfometria - texto de Nadir Afonso

Laura Afonso

A morfometria, qualidade de fonte matemática, é a essência da obra de arte, sendo ela que, numa ilusão de imanência, imprime alma nas outras qualidades próprias dos objectos: a perfeição surge-nos, assim, mais justa, a harmonia mais pura, a evocação mais sincera, a originalidade mais espontânea, como se os objectos fossem banhados de espiritualidade… quando, na realidade, apenas são reestruturados segundo aquela mesma geometria – considerada por Platão, «a beleza absoluta» – que rege as formas elementares da natureza.

E esta certeza mostra-se de tal modo evidente que, durante a nossa longa vida, sempre rebatemos as conjecturas dos estetas, críticos de arte.

Vejamos como se gera essa convicção de que não existe uma lei determinante, própria da obra de arte – «a arte é um mistério» diz Albert Einstein.

Os filósofos pensam que nunca a estética poderia constituir-se como disciplina rigorosa, nem jamais, a liberdade criadora da arte, seria submetida às regras predeterminadas da ciência e suas normas quantitativas … e, contudo, apesar de tão bem conceituados argumentos, o filosofo engana-se, esquece que na criação artística, a matemática perpassa intuitiva, conduzida por uma percepção sensível e nunca acessível a uma consciência dizível.

Para entender a noção de morfometria e alcançar o que de eterno e transmissível existe na obra de arte, reveste-se de primordial importância, cultivar, mediante uma prática perseverante, a nossa acuidade às formas da natureza e laborá-las de tal modo que possamos distinguir os atributos imutáveis próprios dos espaços e diferenciá-los dos atributos mutáveis, próprios dos objectos, sujeitos à evolução natural.

Dado que as formas elementares da natureza – círculo, esfera, quadrado, cubo, triângulo equilátero … – estão na origem dos espaços regidos por leis, é nesta essência particular da obra de arte que o filósofo-esteta sente sem, todavia perceber, o mistério que emana dos objectos convertidos a uma mensurarão quantitativa.

A operação morfométrica – essa conversão da forma do objecto em matemática da forma – é amplamente tratada nos nossos trabalhos anteriores[1].                       

Texto de Nadir Afonso



[1] Le Sens de l’Art, Inprensa Nacional. O Sentido da Arte, Livros Horizonte.

28
Abr07

As Artes: Erradas Crenças e Falsas Críticas

Laura Afonso

 

 

Nunca houve entre mim e os homens políticos, um bom acolhimento como se receasse, confiar-lhes o meu modo de sentir. Reconheço, contudo, que o estudo do materialismo histórico de Marx assim como da teoria do reflexo de Lenine (1870-1924), pela clareza dos seus ensinamentos e pela atenção que lhes devotei, muito me evitaram os erros da sua própria estética.

Se bem que o nosso trabalho esteja fundado sobre o trabalho destes homens e consideramos o seu sentido da evolução, inultrapassável, é, contudo, fácil de compreender a razão por que estamos em completo desacordo com as suas teorias estéticas: elas carecem, a nosso ver, desse outro sentido das geometrias matemáticas imutáveis, essência da obra de Arte. Os seus estudos «Sobre Arte»[1] surgem, assim, decapitados à nascença.

Aragon (1897-1982) não poderia ter explicado melhor as suas próprias carências: «Não pensem que sou um comunista sem sensibilidade para ver a Arte Abstracta, mas … não vejo possibilidade de aproximar os termos da política militante comunista e a Arte Abstracta»[2].

E, porque é que, Aragon, não vê aproximação possível? Não vê, porque a Arte Abstracta é justamente essa morfometria intuitiva, essa essência única que, pelas suas leis imutáveis, escapa não só ao marxismo mas a toda a filosofia, hoje, fundada sobre a evolução natural.

 

E se tal conceito evolucionista, incentivo duma proliferação de sucessivas performances de vanguarda, de mensagens “artísticas” — políticas ou esotéricas — e seus consagrados disparates, se consente, isso se deve ao facto de que a presença das leis constante da Natureza e da Arte, sempre os ditos «geométricos obcecados», a sentiram e preservaram.


Nadir Afonso, extraído do livro «As Artes: Erradas Crenças e Falsas Críticas»


 

 



[1] Sobre a Literatura e sobre a Arte — Karl Marx.

    Sobre a Literatura e sobre a Arte — Lenine.

[2] Louis Aragon. Entrevista com M. Kosice — Géoculture de l’Europe d’Aujourd’hui.

13
Abr07

Erroneous beliefs

Laura Afonso

I have never felt warmly towards polítical men, as if I feared entrusting my feelings to them. I acknowledge, however, that because of their clear teachings and the attention I have paid them, Marx's study of his­toric materialism, as with Lenin's study on the theory of reflection (1870-1924), have largely prevented me from falling into the errors of its aesthetics.

Although our work is founded on the work of these men and we have taken their unavoidable feeling of evo­lution into account, ít is nevertheless easy to understand why we thoroughly disagree with their aesthetic theories: in our view, they lack that other feeling of the immutable mathematical geome­tries, the essence of the work of art. Their studies «On Art»24, therefore, appear disabled from birth.

Aragon (1897-1982) could not have explained his lacks in a better way: «Do not think that I am a communist wíth no sensibility to see abstract art but I do not see how to approach the terms of militant communist policy to abstract art»25.

Why cannot Aragon see any possible approach? Because abstract art is precisely that intuítive morphometry, that unique essence which through íts immutable laws evades not only Marx­ism but all philosophy founded on nat­ural evolution today.

If this evolutionary concept, the incentive of a proliferation of successful avant-garde performances, of (political or esoteric) «artistic» messages and their unmitigated nonsense is allowed, this is due to the fact that the presence of the laws of nature and of art has always been felt and preserved by the so-called «obsessed geometricians».

 

 © Nadir Afonso, in The Arts, Erroneous beliefs and false criticisms. Chaves Ferreira Publicações, October 2005. 


 

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